2.02.2015

WHIPLASH

Concernente ao enredo.

A história Whiplash: Em Busca da Perfeição, narra à vida pessoal e profissional, junto com os acontecimentos primorosos do solitário Andrew (interpretado pelo ator Miles Teller). Andrew é um jovem baterista de 19 anos que tem o sonho de ser o melhor de sua geração e de marcar o seu nome na música americana, tal como fez o baterista Buddy Rich, que é o seu maior ídolo na bateria. Após chamar a atenção do reverenciado e impiedoso mestre do jazz Terence Fletcher (interpretado espetacularmente pelo ator J. K. Simmons), Andrew entra para a orquestra principal do conservatório de Shaffer, que é a melhor escola de música dos Estados Unidos. Em contrapartida, a convivência com o abusivo maestro fará com que Andrew seja incitado poderosamente a transformar o seu sonho em uma obsessão, que o estimula a fazer de tudo para chegar a um novo nível como músico, mesmo que isso coloque em risco seus relacionamentos com sua namorada, com sua família e, principalmente, com sua saúde física e mental.


Acredito que esse filme tenha uma cadência inovadora para esta geração. A temática musical não é nenhuma novidade. Quantas histórias sobre musicistas já foram contadas. Não falo de musicais como Cantando na Chuva, ou Jesus Cristo Superstar ou, recentemente, Os Miseráveis, mas refiro-me a história que privilegiem ao músico. Falo de histórias que narram à trajetória do músico, seja ele guitarrista, baixista, baterista ou vocalista. Lembro-me de Quase Famosos, que cumpriu a sua meta em divertir, emocionar e estimular o seu público. Uma história existe, antes de qualquer coisa, com o intuito em ser interessante. Os conflitos irão gerar este interesse em busca de uma satisfação e identificação do público com a obra. É difícil você saber o que agrada ao público, assim como é difícil, logo após assistir a um filme, ou ler um livro ou a ir a uma peça de teatro, de você admitir que aquela obra que acabou de contemplar seja conhecida e reconhecida como clássica. Às vezes temos a impressão de estarmos diante de um clássico, ou seja, de uma obra que irá transpor vividamente as telas, as páginas e o palco. Porém, às vezes, não temos como saber disso. Qualquer tipo de previsão que possamos fazer sobre como é que tal obra será recebida pelo público é impossível. A única certeza que temos (que, por sinal, ainda é questionável!) será se nós mesmos gostamos ou não da obra. Isso sim nós podemos fazer. Assisti a Whiplash um tanto quanto condicionado a gostar dele por causa das recomendações que havia recebido de pessoas que respeito a opinião. Quando assistia ao filme, logo tive uma sensação: "Estou diante de algo honesto". E com isso tive mais convicção sobre o verdadeiro valor que uma obra precisa ter. Certa feita o diretor e roteirista norte-americano Darren Aronofky (Que dirigiu e roteirizou excelentes filmes como Réquiem para um Sonho, Fonte da Vida, O Lutador e Cisne Negro) relatou: “O segredo, se é que você pode chamar de segredo, para se escrever uma história e adaptá-la num filme, é você ser honesto com a sua ideia de origem. Se você teve uma infância numa cidade interiorana, e gostaria muito de contar as suas experiências adquiridas nesta época particular de sua vida, então, terá de ser honesto com suas lembranças. Não precisará se esforçar tanto assim para escrever algo que faz parte de você. Será fácil e fluirá naturalmente; porque isso faz parte de você. Você precisa ser fiel a sua ideia inicial. Ao fazer isso, portanto, haverão aqueles que se identificarão visceralmente com o que você está dizendo e, com certeza absoluta, haverão aqueles que detestarão a maneira como você abordou essa história”. E o incrível da arte é isso. Aqueles que gostarem da maneira como você escreveu uma história, não necessariamente precisarão ser pessoas que já experienciaram algo semelhante. Você poderá agradar tantos a especialistas como a leigos. Isso é arte! Faz pessoas serem transportadas de seu lugar de conforto para algum lugar completamente desconhecido por elas mesmas, mas que, incrivelmente, tornar-se-á o seu novo lugar de conforto. 

O filme Whiplash conta a mesma história que já estamos familiarizados em ouvir, pelos moldes característicos da Jornada do Herói, porém, de uma maneira que é, desde o início, já fortalecida por um ritmo crescente. Este fortalecimento, a meu ver, se dá justamente por causa da excelência claramente exposta entre uma cena e outra. Este crescente, que posso classificá-lo como um crescente musical, assim como também em um crescente cinematográfico, ou até mesmo em um crescente teatral, percebo, que torna-se o cerne dessa história. A composição inicial que esta história nos revela é o crescente do silêncio até o triunfo. Para mim, o filme inteiro é uma música. Tem início, meio e fim. O início, para ser chamado de início, é critério do autor. A vida não nos ensina como começar algo. Ela nos impele a ter de começar. Logo então, chegamos ao meio que, ao contrário do início, já possui tendências à extrapolação. E, por fim, chegamos ao fim do ato. A vida também não nos ensina a como terminar algo. Ela simples exige que a gente tenha o desenvolvimento maduro o suficiente para saber o momento de terminar. Para fazermos isso, necessitamos de prática. De muita prática. A ascensão até este triunfo tão almejado perpassa o conhecimento que nós temos sobre o significado das palavras intençãovontade e perfeição.

intenção que o personagem Andrew tinha era a de seguir o fluxo natural, que corria em suas veias e que extasiava o seu coração a cada batida, em querer ser um artista que toca bateria com qualidade demasiada. Um detalhe quanto a isso: “Ele não queria ser um artista destinado a ser um baterista”. Sua intenção era clara – ser o melhor baterista de Jazz Clássico de sua geração. Não nomeio esta sua intenção em querer ser o melhor de sua geração como uma presunção extrapolada de sua parte. Falo isso porque se eu for analisar esta sua particular intenção sem levar em consideração as suas relações com os outros, irei classificá-lo como um péssimo naquilo que faz. É claro que não podemos desprezar as relações e considerar este ato como algo louvável. Há preciosidades primorosas nas relações que só sabem aqueles que se submetem a elas com vigor e autenticidade.

vontade de Andrew era proporcional a sua escolha em não querer ter amigos. Em uma cena no filme ele compartilha com uma garota na qual está tendo um encontro pela primeira vez, que não consegue ter contato olho no olho. Tem uma dificuldade em encarar e se expressar. Por isso que tem a tendência a olhar para o chão, ao invés de olhar dentro do olho de alguém. Esta sua característica típica de pessoais antissociais, faz com que a reclusão dele seja um fator preponderante. Ele ainda sai com seu pai, para ir ao cinema e para conversar sobre as peculiaridades que cada um possui. A princípio vemos o quão diferente é Andrew. O que Ele faz, seja nos mínimos detalhes, soa primeiramente como algo diferente e inusitado. Mas é assim que ele se comporta, e quanto a esses seus comportamentos específicos nada podemos fazer para contestar a sua natureza, porque a sua vontade de fazer o que faz e se submeter ao que se submete é muito maior do que suas indecisões em pôr sobre dúvida suas capacidades mais íntimas.

perfeição é um elemento infinitamente distante de nosso campo perceptivo. Quem alcançará a perfeição quando o alcance a esta, torná-la-ia imperfeita em sua natureza integral?  O alcance do perfeito elimina a perfeição quando o atingimos. Mas quem quer atingi-la, ou seja, aqueles que têm a intenção e a vontade em alcançar a perfeição, aproximam-se, minuciosamente, do que é a perfeito e, voluntariamente, torna-se alguém que realizou um ato mais perfeito do outro qualquer. Ele não foi perfeito, mas quis ser

Indecisão singular.


Sabe quando estamos diante de uma dúvida que a aflora a nossa frente à queima-roupa e oferece, obrigando-nos até, a aceitar a alternativa de obter condições para poder virar a mesa? Esse é o momento chave para o nosso crescimento. A dúvida nos impulsiona para a decisão que está diante de nós. Sem a dúvida, não haveria critérios que tornariam as nossas escolhas em escolhas de qualidades inquestionáveis. Ao Andrew foi oferecida a chance de ser o melhor naquilo que ele sempre sonhou ser: Baterista Profissional. A faísca estava em evidência naquele momento. Vale lembrar sempre que quando se tem uma faísca, isso não necessariamente significa que haverá um incêndio, assim como ter o gotejo de águas não significa que haverá transbordamentos. Porém, há de se começar por alguma instância. É necessário estabelecer princípios. 
O princípio é ponto de partida e a meta é o ponto de chegada. Qual o princípio gerador e firmemente consciente que Andrew tinha? Ser o melhor naquilo que ele faz. Qual a sua meta, portanto? 
Sua meta é cuidar cautelosamente e incisivamente para conseguir realizar este feito. A cautela será por conta da atenção devida ao que se quer; o mais importante da vida é o que fazemos quando temos interesse em algo, ou seja, como nós escolhemos o fazer. Qual a melhor maneira de executar este ato?  

A escolha de viver pela escolha que se teve, originou-se em você.

Já parou para pensar o quão responsável nós somos pelas escolhas feitas e desfeitas? Esta responsabilidade não apenas nos constrói no meio do processo, mas também nos destrói significativamente. O efeito da responsabilidade é a escolha responsável. Andrew é chamado pelo Fletcher para sua banda. Fletcher lhe dá uma chance única dele mostrar o que sabe fazer. Ele não sabia o que vinha pela frente. Como poderia saber? Ele uniu o seu dom com sua vontade de querer ampliar o seu dom. Foi-lhe dada uma chance de ampliação. Ele não poderia e nem deveria ter recusado tal chamado. Vemos, então, que não há a recusa do chamado logo no início. Veremos a recusa vir posteriormente. Geralmente quando vemos a um filme, procuramos tentar entender quais foram às motivações dos personagens. Quando as motivações são esdrúxulas e incompetentes, então, julgamos a obra como desqualificada ao seu propósito de ser apreciada. A motivação é tudo. Sem motivações não existem conflitos. A motivação é o calor da história. 

Você está adiantado ou atrasado?


Para mim a melhor cena do filme é a que o Fletcher pergunta ao Andrew, após este errar o compasso no momento em que está tocando bateria: Você está adiantado ou atrasado? Que pergunta mais intensa! Existem poucas perguntas que são cruciais para o nosso entendimento sobre quem nós realmente somos. No livro de GênesisCapítulo 09 o SENHOR faz a seguinte pergunta para Caim, logo após este matar o seu irmão: “Onde está Abel, teu irmão?”. Olha só a pergunta que ele está fazendo – Onde está Abel, teu irmão? A pergunta sobre onde está aquele que é chamado por meu irmão, é tão sincera de intensidades e tão elevada em sua precisão, que não existe argumentação nenhuma que satisfaça adequadamente a essa pergunta. Fico a ver navios quando tenho de respondê-la. Sinceramente, não sei onde está o meu irmão. A resposta de Caim é bastante direta e repleta de uma consciência fragilizada: “Não sei; sou eu, por acaso, guardador do meu irmão?”. O interessante é que a sua resposta tem uma verdade imposta nela. De antemão, ele até tem razão em argumentar ao dizer que nunca havia sido incumbido de guardar o seu irmão. Mas esta sua afirmação em não saber onde está seu irmão porque não tinha a missão de guardá-lo, não é uma resposta satisfatória e nem verdadeira em sua concepção. Ela não é verdadeira porque oculta a verdade, trazendo a tona o pecado que Caim tentou desesperadamente encobrir. Portanto, a pergunta que o SENHOR lhe fez, foi uma pergunta que tinha o propósito de gerar nele o arrependimento ao respondê-la. Mas ele escolheu respondê-la a seu modo, ocultando à verdade e fazendo fluir o erro contínuo que havia cometido. Esta é uma daquelas perguntas que sempre será oportuna ser feita. Uma pergunta atemporal. Outra pergunta, dentre várias que poderia escolher, é a pergunta que o SENHOR fez a Jó, interrogando-o com uma pergunta desnorteadora: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Faze-mo saber, se tens entendimento” (Jó 38.4). Essa é uma pergunta existencial esplendorosa. A resposta é bem simples: “Eu, simplesmente, não existia”. Uma resposta como essa nos faz entender quem nós somos. Quando chegamos, a “festa já havia começado”. Então, por que seríamos especiais ou, digo mais, por que seríamos tão importantes por nós mesmos? Existem muitas outras perguntas que poderia escolher e fazer uma análise profunda, porém, vou-me a ter a pergunta precípua do filme, a meu ver: “Você está adiantado ou atrasado?”. Quando Andrew está tocando a música Whiplash, o Fletcher o interrompe várias vezes ao dizer que ele errou no compasso da música. Ele lhe dá chances por trás de chances e, então, passa a pressioná-lo para que este lhe diga se ele realmente sabe o porquê, o onde foi e o como foi que errou este compasso. O nervosismo de Andrew fica evidente e por causa disso ele não consegue mais discernir o seu erro. Sabe o que significa não mais conseguir discernir o seu erro? Significa que você estará em um estado no qual qualquer coisa lhe será suficientemente aceitável. Ele não é mais capaz de diferenciar o simples do que é complexo, do que está dentro daquilo que está fora, do que está em evidência daquilo que está desfocado. Não consegue mais saber se as suas batidas vieram atrasadas, em relação ao ritmo que a música entoa, ou se suas batidas estavam adiantadas. A busca pela perfeição gera isso na gente. Então, ao estar diante deste conflito enorme, seu semblante se esvai aos poucos e o faz se sentir o pior de todos os seres humanos.

Por que ser o melhor?


"Quando um homem encontra o topo de uma montanha, ele descobre existirem mais montanhas".
Não adianta ser o melhor naquilo que faz; sempre será preciso manter-se como tal. E para manter-se, temos que continuar sendo os melhores. Sempre haverão aqueles que irão querer tirar a nossa coroa. Essa é a condição necessária para a sobrevivência. Isso é indispensável. O filme nos traz muitos questionamentos sobre os métodos de ensinos exercidos por Fletcher, como traz também a busca pela excelência em tudo que formos fazer, e também questões mais abrangentes sobre os níveis preponderantes que a arte pode alcançar. Tudo isso é discutido nesta história. Mas existe uma pergunta que eu já ouvi várias respostas diferentes, que é a pergunta sobre Por que ser o melhor? É claro que nem todo mundo quer, pode e consegue ser o melhor. Primeiro, porque para ser o melhor, isso gerará em você um investimento grandioso, no qual lhe acarretará um trabalho extraordinário. Segundo, porque muitas pessoas não sabem que o podem ser, então, preferem nem mesmo tentar ser, porque a sua tentativa em querer tentar será totalmente ofuscada pelos contrapontos que lhe impeliram a se estagnar. Terceiro, porque muitos consideram que ser o melhor em algo é extremamente subjetivo, portanto, este alguém já pode o ser sem sabê-lo. E por aí vai... Todos estão certos dentro de seus campos de visões. Quando vejo pessoas tentando ser o melhor do mundo em alguma coisa, eu penso: Ela estaria querendo superar aos outros ou a si mesma? Se ela estiver querendo superar aos outros, terá ao outro como uma referência e não mais a si mesmo. Será que nós não somos referência para nós mesmos? Eu não deveria querer ser igual ao outro, mas sim ser melhor do que o outro. Mas antes de ser melhor do que o outro, eu deveria ser melhor do que mim mesmo. Esse é o ponto. Para ser o melhor nadador de piscina, eu terei de, no mínimo, saber como boiar. Após saber como boiar, eu terei de aprender os fundamentos para poder saber como nadar. Após saber como nadar, eu terei, agora, de saber como nadar melhor. E ao saber como nadar melhor do que nadava antes, eu passarei a aprender como nadar mais rápido e mais rápido, mas sem nunca perder a mesma sincronia inicial. Nesse caso o ser melhor é proporcional a nadar mais rápido, porém, quem nada mais rápido nem sempre é o melhor para a posição. É igual ler a um livro. O importante a ler um livro é lê-lo o mais rápido que conseguir, ou lê-lo para poder aprendê-lo? Se eu puder unir a rapidez conjuntamente com a fluidez do aprendizado na leitura, perfeito! Agora, se eu não conseguir ler rápido e aprender rápido, então, lerei devagar para aprender devagar. Porque o importante, desde o início, é aprender aquilo que está no livro que estou lendo, e não em ler o livro mais rápido. Quem lê rápido a um texto, sem assimilar o conteúdo deste texto, melhor seria que não tivesse lido. Igualmente na natação, antes de querer ser o melhor do mundo, eu terei que ser, pelo menos, melhor do que fui ao dia de ontem. 
Consegue ser mais rápido do que isso?



A rapidez é o combustível desta geração. As empresas estão contratando cada vez pessoas com mais capacidade no que concerne a agilidade e eficiência. A preferência por aquele que é ágil, mas sem qualidade, daquele que é lento, mas com qualidade, é bem clara quando observamos de perto. No filme, Fletcher estimula bravamente muitas vezes a Andrew ir mais depressa no tocar de sua bateria. Não apenas a ele mas, também, aos outros dois bateristas que, de igual modo, querem conquistar a vaga de titulares na banda principal. A rapidez que eles chegam supera as suas expectativas. Era isso que Fletcher mais queria. Vê-los superando a si mesmos. A rapidez é algo que necessita ser superada. O crescente em uma batida de bateria faz com que Andrew se machuque e se comprometa absurdamente com sua saúde física e psicológica. Novamente pergunto: A rapidez é tudo? Percebo que logo após chegar a um nível de rapidez constante, Andrew passa, então, a utilizar desta sua rapidez como meta de normalização. Ele quer continuar sendo uma pessoa rápida mas, também, quer fazer desta sua rapidez um padrão. A sua meta é desumana, no sentido de maus-tratos ao seu corpo e alma, mas extremamente louvável do ponto de vista artístico. 

Tarde demais, você já criou o monstro.


A palavra monstro vem do Latim Monstrum, “ser deformado, monstruosidade, sinal, agouro”, derivado do verbo Monere, “avisar, chamar a atenção para”. No dicionário nós vemos: “Criatura, geralmente com uma aparência bastante feia ou abrutalhada, que não se parece em nada ou quase nada com as criaturas comuns”. Dentro do filme, percebemos as mudanças que ocorrem da forma gradativa. As gradações e os seus níveis são muitas. Não existe um vilão. Uma coisa é considerar o vilão como o inimigo dentro da história; outra coisa, bem diferente, é você dizer que o inimigo sempre é o vilão. Para alguém ser vilão em uma história, este deverá se comportar como tal. O vilão possui em sua personalidade uma intenção claramente maligna, de grosseria, malvadeza, desonestidade, inconveniência e indelicadeza. Agora, quando aquele que era para ser o vilão, ou seja, a antítese do herói, lhe estimula a ser alguém melhor do que é? Como chamamos a isso? Ele continua sendo o vilão ou deixa de sê-lo e passa a ser coadjuvante do herói? Ou ele passa a ser um inimigo declarado que apenas é adversário direto do herói? O que ele é, então? Seria ele o estímulo necessário para que este outro sobreviva e transcenda os seus níveis de capacidade? Tal como são Batman e Coringa, e Sherlock Holmes e o Professor Moriarty? Enfim, a verdade é que era tarde demais para reconsiderar as palavras ditas e os atos feitos. Agora as consequências seriam imprevisíveis. 

Em busca da perfeição.



Gostaria de dividir a cena final em duas partes. A primeira eu chamarei de Degeneração e a segunda de Renascimento. Como já havia dito, tudo o que Andrew queria era ser o melhor. Para ser o melhor, ele usava como parâmetro a isso o melhor que ele considerava, que era o Buddy Rich.

degeneração de Andrew ocorre quando ele se vê numa situação sem saídas alguma. Ele não sabe o que fazer para continuar vivendo nesta posição. Ele está diante de um momento em que terá de decidir entre ceder absolutamente ao fracasso, ou de arriscar totalmente a sua reputação. Uma coisa é clara: “Algo significativo e inesquecível acontece quando nós arriscamos tudo que temos”. E foi o que ele fez.

renascimento de Andrew acontece quando ele intenciona ao máximo o seu querer em busca da perfeição. A perfeição que ele almeja é uma perfeição tanto em um ritmo harmônico e acelerado, como em uma velocidade técnica e impulsiva. Ele passa a dar lugar a emoção canalizada, junto de uma força impetuosa que o direciona a desconstruir para poder construir algo inesquecível. A partir deste momento, ele não mais sabe o que está fazendo; assim como anteriormente havia falado sobre a grande pergunta que permeia o filme: “Você está adiantado ou atrasado?”, no qual ele não soube como respondê-la, agora, estamos diante de um ato inacreditável de sua parte: Ele não sabe mais de nenhuma coisa que não seja tocar uma bateria com maestria e perfeição. Para ele atingir a perfeição terá de superar a si mesmo de uma maneira extraordinária e ininterrupta. Ele supera a si mesmo no exato momento em que está tocando. A sua superação é simultânea ao seu desenvolvimento. Isso seria o mesmo que você ter de subir em seus próprios ombros para poder enxergar mais alto do que si mesmo. Isso é possível? Claro que não é possível. Mas isso o impede de tentar? Claro que não! Ele chega à perfeição quando o seu nível energético e dirigido do pensamento, sentimento, sensação e intuição ultrapassa a percepção de sua consciência. Agora ele está fora de si e não mais é capaz de medir as consequências de seus atos, porque o que lhe importa naquele momento, pela primeira vez em sua vida, são os acontecimentos presentes. A cena é inacreditável. Palavras nenhuma seriam suficientes para conseguir descrevê-las como esmero preciso. 
E o máximo que consigo expressar é a gratidão em minhas palavras incompletas ao dizer que o cinema, mais uma vez, leva-nos a lugares tão altos, mas tão altos, que você chega a perder a noção do que está assistindo. Um Filme assustadoramente dramático, e emocionalmente poderoso. Essas são sensações que poucas vezes sentimos na vida. Caramba, nossa... Meu Deus! Que filme foi esse? Sem exageros...”Whiplash - Em Busca da Perfeição”, é uma Obra que trata de algo que é muito contemporâneo; o filme demonstra a concepção da "Genialidade" e da "Loucura", simultaneamente.